quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

um sebo de resenha: Lana Del Rey - Born to Die (Polydor) - 2012



* por Anatole Nogueira



Lana Del Rey é Elizabeth Grant, isto é, aquela que, uma vez fracassada, abandonou seu antigo nome para assumir seu alter-ego. Desde o lançamento do clipe “caseiro” de Video Games, a moça vem causando um frisson na indústria fonográfica internacional, gerando intensa expectativa em relação ao seu debut. Ao longo do seu álbum de estréia, depara-se com momentos de intensa qualidade artística e outros, ao contrário, de decepcionantes bobagens. Na verdade, as cinco primeiras músicas são impactantes, grandiosas, compendiando influências do rock clássico, folk, soul, pop, R&B, hip hop e até música clássica. “Born to Die”, primeiro single, abre o disco com um clima quase fantasmagórico, ressaltando um baixo sintetizado, teclados que parecem ressoar numa igreja medieval e uma batida eletrônica recheada de ecos de reverb. Em seguida vem “Off to the Races”, excelente mistura de hip hop, jazz e um refrão pop grandioso. “Blue Jeans” é a música que Elvis se esqueceu de gravar, e “Video Games” é um hino moderno ao comodismo e à rejeição. Ao longo do disco, percebe-se a incrível habilidade de Lana de alterar completamente seu timbre de voz, passando de um grave-bêbado até um agudo-psicopata, o que só engrandece suas canções.

Entretanto, a partir de “National Anthem” e “Dark Paradise”, duas músicas bem fraquinhas e inexpressivas, o disco começa a perder a força. Daí se percebe que músicas excelentes vêm permeadas por outras mambembes. Tanto é que “Radio” - a melhor canção da leva, um entremeado delicioso de pop e rock sessentista, com um vocal esplendoroso e, ao mesmo tempo, esnobe, vem acompanhada de “Carmen”, uma música bizarra num estilo ridiculamente britânico. “Million Dollar Man”, por sua vez, traz uma excelente melodia jazzística, cantada com uma incrível devoção por Lana. Finalmente, o disco se encerra com a quase-electropop “This is What I Make Us Girls”, que, se não é das mais inspiradas, também não faz feio.

Outro ponto negativo é o conteúdo extremamente melodramático das letras; as vezes é difícil ouvir, repetidas vezes, um tipo excessivo de sofrimento oriundo por rompimentos traumáticos e pela demência do mundo em geral. Contudo, se você, como eu, é daqueles que entende muito pouco do inglês cantado, isso não será dos maiores problemas.

No fim das contas, “Born to Die” fica no plano do razoável. Não constitui um disco à altura da expectativa gerada, mas, se comparado ao atual panorama da música pop, representa um suspiro de novidade, congregando boas influências e algumas excelentes canções. A falta de regularidade a partir de determinado ponto macula a pretensa qualidade do disco, o que reputo ter sido o motivo de algumas opiniões negativas. 

De todo modo, é uma obra que merece ser ouvida, comentada e tocada, até porque, além de ter uma bela voz e um grande talento para compor, a Lana é uma gata. Acho que tá de bom tamanho, afinal. 


Nota: 6,5




Anatole Nogueira é guitarrista, baixista, compositor, apaixonado pela Raquel, dono do resenhismo 2.0 e advogado nas horas vagas.

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