sexta-feira, 19 de agosto de 2011

um sebo de resenha: Yuck_Yuck (fat possum) - 2011

*por Anatole Nogueira


Ironias acontecem: justamente no ano em que J Mascis lança um disco acústico, despindo-se das distorções para cantar abertamente suas ásperas lamentações, esse discão de estréia do Yuck é lançado sob um mar de ruídos que, quem diria, nos remete aos melhores momentos do Dinosaur Jr.

Meio que surgindo do nada, o Yuck convida o ouvinte à revisitação de um estilo injustamente esquecido pelas novas gerações de rockeiros: o lo-fi. Com suas belas camadas de distorções, juntamente com vocais que parecem ter sido gravados dentro de um buraco, a banda sinaliza um novo rumo ao indie rock atual, bebendo em influências até então ignoradas por grupos do mainstream.

Como referências, podemos citar, além do próprio Dinossauro juvenil, Sonic Youth, Pixies, Sebadoh, e até mesmo grupos do movimento shoegazer, como o My Bloody Valentine. 

O disco começa com Get Away, uma canção distorcidamente suave, com melodia sublime e refrão grandioso. The Wall arrebenta-se numa cadência rápida, incessante, você vai desejar que ela nunca acabe. Daí em diante o ouvinte encontrará lindas baladas, umas mais diretas (Shook Down), outras escondidas em meio aos ruídos (Georgia); também se surpreenderá com fritadas viscerais no mais puro estilo Pixieano (Operation). Existem, igualmente, alguns momentos decepcionantes, como na boba Suicide Policeman.

O disco termina com Rubber, uma canção etérea que se prolonga por mais de sete minutos em meio a guitarras barulhentas, vocais sujos, microfonias berrantes e uma linha de baixo descomunal, tudo numa viagem épica que nos faz lembrar os grandes discos do Sonic Youth.

Talvez, diante desse grande debut, o Yuck cresça e se torne referência, abrindo as portas para bandas que, somente agora, vêm tentando assimilar a cultura lo-fi: um estilo de rock que foi precocemente soterrado pela ascensão do grunge nos anos 90. Entretanto, a banda, também, pode virar artigo de relicário, como o são, hoje, o Fleet Foxes e Vampire Weekend, que apesar da qualidade, possuem um público extremamente restrito, sem interferir no panorama da música indie atual. 

Enquanto isso se desenrola, siga uma dica: num domingo ensolarado, junte os amigos, deixe Yuck tocando na radiola, abra sua cerveja e relaxe: o caos nunca foi tão doce.

Nota: 8,5







Anatole Nogueira é guitarrista, baixista, compositor, apaixonado pela Raquel, dono do resenhismo 2.0 e advogado nas horas vagas.

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